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26 de junho de 2009

Amélie Poulain - Sobre o Filme

Fui apresentado a esta obra ainda neste ano, um encontro tardio (Foi lançada em 2001) mas deliciosamente existente. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é trágico, cômico, monótono, dinâmico, romântico, triste, feliz... É um exercício cinematográfico de juntar a vida em sua complexidade característica à aura fantasiosa imprimível apenas na película do filme fotográfico. O diretor, Jean Pierre Jeunet já praticamente havia desenhado o filme, antes das gravações, quase totalmente cena-a-cena em storyboards. A fotografia do “Amélie” é primorosa, em apenas duas cores principais: Verde e Vermelho. As variações presentes entre as gradações destas cores completam a estonteante visão que nos é oferecida dos cenários, em concentrações saturadíssimas (Um filme capaz de cegar Tim Burton, em seus Sweeney Todd e a Noiva Cadáver) apenas controladas por focos azuis na tela, pontos neutros para equilibrar o visual.

Se gostar de filme tecnicamente impecável, não é desperdício de tempo falar sobre a movimentação da câmera: é soberba. Sempre pronta a nos oferecer visão panorâmica, seja do espaço puro e simples ou da situação da nossa personagem principal, ela não atravessa vidros, eleva a visão até topos de arranha-céus, mas gira em torno de lugares simples e derrama glamour em pontes, escadarias, paredes, exibindo o belo privado de nós pela repetitiva perspectiva cotidiana (mas ela dá seus pulinhos). A trilha sonora é assinada por Yann Tiersen, composta por músicas anteriores ao projeto, e algumas inéditas, como La valse d'Amélie. Destaque também para À quai, La noyée, Comptine d'une autre été.

A edição é fantástica, assim como os efeitos visuais um pouco complexos, mas que parecem simples na tela, sem te deixar com a impressão de assistir a uma tela azul por 122 minutos (cof cof, Homem Aranha, cof cof, Matrix Revolutions, cof). Os personagens são explicados pelo narrador, em tom didático (o que não nos impede de analisarmos um a um por conta própria), e de fato, suas vidas são deliciosamente incomuns em sua simplicidade. Me atenho a falar da personagem que ajuda a compor o título do filme: Amélie é infantil, introspectiva, bem do tipo que prefere morar num mundo de hipóteses e sonhos a enfrentar a realidade. É um tipo de inteligência que passa à margem da visão social. Sua capacidade imaginativa é enorme, fruto de uma infância perdida em seus pensamentos, longe da família indiferente e calamitosa que a cercava. Uma peculiaridade é seu senso de justiça, que a mobiliza em prol dos indefesos e em favor dos aflitos. Esse senso move sua vontade de ajudar a todos que encontra em sua vida. Destaque para a interpretação de Andrey Tauton (Sofie, do Código Da Vinci), com seus grandes olhos castanho-escuros, que traz a infantilidade e seriedade que a personagem exibe, dando-lhe incrível veracidade.

Acabei de entregar, Le fabuleux destin d'Amélie Poulain é um filme francês, e não deve seu charme por isso, mas pelas qualidades técnicas e pela capacidade de mostrar o tipo de pessoa que a sociedade atual ajuda a formar de uma forma apaixonante e ao mesmo tempo fria. Digo isso pelo simples fato de que muitos dos que assistem admitem possuir algo de Amélie, ou total semelhança. A disciplina, o desejo de fugir da realidade opressora obriga a uma fuga interna, uma vivência introspectiva utilizada com o intuito de privar o ser do sofrimento na realidade dura, e por outro lado, de viver, existir para o outro, priva também do convívio social. E quando se tenta quebrar a redoma, o indivíduo se vê incompetente, sem meios de interagir diretamente com o outro. Desaprendeu a se relacionar. E o Ciclo se completa: Vive introspectivo por achar o mundo ruim, acaba tentando contato acreditando na possibilidade de sucesso, mas se decepciona pelo fracasso e impossibilidade própria, acaba encolhendo-se...

Fica o trailer de Amélie, vá e alugue, compre, baixe por torrent, mas não deixe de apreciá-lo.

1 comentários:

  1. Também tive um encontro tardio com a obra. Achei sua crítica impecável e muito perspicaz. Parabéns! Abraço.

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